Carimbó. Sotaques do Samba
Brasil
Filme S-8mm, Fotografia 35mm
Djalma Corrêa também realizou suas pesquisas e gravações audiovisuais no estado do Pará. Lá percorreu a regiões da Ilha de Marajó e do Salgado. Em Soure, na Ilha de Marajó, registrou o grupo de Carimbó “Invencíveis da Ilha” do Mestre Abelardo Ramires e o grupo de Lundu de Mestre Biri. Na região do Salgado, registrou no munícipio de Vigia os tradicionais grupos de carimbó: Tia Pê e Tapaioras e em São Caetano de Odevelas fez registros de Lundu, Carimbó e Chula. Essas três manifestações culturais estão presentes ainda hoje no estado Pará. O Carimbó é hoje patrimônio imaterial brasileiro, recebeu o título pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2014, resultado de uma intensa mobilização dos grupos de Carimbó que teve início em 2008.
O Carimbó é uma manifestação cultural paraense, uma dança de roda, uma prática ritual cuja a origem etimológica vem do nome do tambor curimbó. O curimbó, de origem afro-brasileira, é um tambor de tronco escavado coberto de couro de animal. O tocador senta no tambor pra tocar e a afinação é feita no fogo. Em geral são três tambores, e muitos tocadores são também seus artesões. Segundo Gabbay, estudioso da região marajoara, o carimbó é “ um tipo de canção percussiva à base de tambor escavado, com predominância de compasso dois por quatro e de uma estrutura poética de solista-coro, com temáticas que variam entre as questões da terra, da vida cotidiana, do trabalho”. Na região do Salgado os temas variam entre o universo social e cultural da pesca e da vida agrícola. O Carimbó normalmente ocorre em festejos religiosos, como nas festas de São Benedito, e em ocasiões festivas comunitárias. Há também a ocorrência de festivais de carimbo ou cultura popular e hoje em dia muitos grupos são contratados para apresentações.
Além do tambor outro instrumento percussivo presentes no carimbós é o maracá ou xeque-xeque. Instrumento de origem indígena, presente em diversos praticais rituais. Como conclui Gabbay “eis o DNA do carimbó, o diálogo sincopado entre grave e agudo, entre tambor e maracá, entre o negro e o índio”. Mas também não se pode negar sua influencia ibérica, na dança, na poesia e em outros elementos.
Ao longo do tempo, por influência das rádios e de outros fatores - como o ensino de música na região, para formação de bandas - foram incorporaram nos carimbós instrumentos harmônicos e de sopro. Nos registros feitos dor Djalma variam as formações dos grupos, mas vemos a presença de clarinetes, flautas, banjos, violões e violas.
A dança também é um ponto marcante do carimbó. É uma dança de roda, participam homens e mulheres, estas de saias rodadas. Muitas danças imitam animais. Segundo Vicente Salles, folclorista paraense “há uma variedade desse tipo de dança no carimbó, como por exemplo, a dança Camaleão, a do Jacaré, a do Gambá, a do Bagre, a do Macaco etc.”. (Apud. Picanço; Cordovil; Guilhon: S/data)
O Lundu ou lundum e a Chula são gêneros musicais que se espalharam pelo Brasil no período colonial e foram incorporados na cultura musical do Pará. O lundu é uma dança sensual, que insinua um ato sexual, foi proibida em muitos momentos, mas permaneceu viva em lugares remotos e isolados como era o caso da Ilha do Marajó no final do século XIX e início do século XX. Em Soure, Djalma registrou o Lundu de Mestre Biri, importante músico da região. Nos Lunduns do Pará é marcante a presença da rabeca. Outros instrumentos são o banjo, a clarineta, violão, cavaquinho. Segundo trabalho já citado de Gabbay, o lundum marajoara era tocado apenas na madrugada, quando o “terreiro já se encontrava submerso no transe suscitado pela aura festiva dos batuques, bailados, conversês e bebidas, é que o grupo soltava os primeiros lunduns”.